Ao aproximar-se mais uma Páscoa, não deixo de recordar alguns episódios de outras que vivi na infância e juventude. Do que mais me lembro é das difíceis cerimónias da Semana Santa, na Sé, ainda com tempo frio e que duravam tempo sem fim. Era um tempo triste.
Chegado o Domingo de Páscoa tudo mudava, a começar pela disposição. Havia sempre algo novo a estrear, um vestido, saia ou uma camisola, por vezes uns sapatos. Mas o mais empolgante era mesmo a Visita Pascal, ou Compasso. O Pároco visitava todas as casas que se encontravam de portas abertas, subia e descia escadas vezes sem conta, provava os doces, bebia o calicezinho de vinho do Porto, saboreava uma amêndoa e retirava o envelope da salva. Chegava, com toda a certeza, ao fim do dia estafado e, se calhar, "alegre" ou enjoado. Com ele ia o sacristão com a Cruz para se beijar, o garoto da caldeirinha da água benta para abençoar e um magote de miúdos que entravam também nas casas e iam coleccionando amêndoas. Lembro-me bem de fazer parte desse grupo, o meu irmão era até o garoto da caldeirinha e então, além da minha casa, não perdia a entrada nas casas das minhas avós e das amizades da vizinhança.
Ano sim, ano não, a visita pascal era logo no Domingo de Páscoa ou no Domingo seguinte, que designávamos por Domingo de Pascoela. Isto porque o Pároco não consegui visitar a freguesia da Sé e a de São Vicente, no mesmo dia.
Com o passar da infância, as alegrias pascais foram diminuindo. Não é que as procedimentos tivessem mudado, mas a participação neles ficou mais limitada. Cada ano eu desejava era que as férias passassem rápido e tudo voltasse à rotina.
Como tirar fotografias era uma coisa rara, não tenho por isso nem uma só desses eventos. Curiosamente, até havia máquina fotográfica lá em casa, pertença do meu pai, mas foi muito pouco usada e acabou até por desaparecer, nem sei como.
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