Antes que tudo se esfume - Dos três primeiros anos de vida
Começo por dizer que fiz um
rascunho do que pretendia escrever ao abrigo deste tema e, dado que me fui
apercebendo que afinal ia ser um bocado longo e povoado de fotos, resolvi
dividi-lo em partes, Assim, repetirei sempre o título principal, “Antes que
tudo se esfume”, acrescentado de subtítulos. Provavelmente não vou publicar
todos no mesmo dia, para não tornar “a coisa” tão pesada.
Para começar, esta primeira parte
será dedicada aos meus primeiros três anos de vida, isto porque, ultimamente,
penso muito nos meus anos de infância e juventude, passados na minha terra
natal. Lembro-me de algumas casas onde vivi, de ruas, episódios, situações,
pessoas e, muito também, sentimentos e emoções experimentados.
Com o que escrevi no texto
intitulado “Meados do séc. XX”, já deu para entender que ando assim a modos que
saudosista; não sei se é isso, ou melhor, se é só isso, ou antes um sintoma de
velhice, de senilidade…
Seja o que for, o facto é que me
vêm à memória com frequência uma série de coisas e às vezes não vêm completas e
fico muito irritada, pior, alarmada, por sentir essas falhas. Sinto mais isso
quando falo com o meu irmão sobre esses tempos, ele tem muito mais memórias,
lembra-se de lugares, desta e daquela pessoa, de ex-vizinhos, de amigos (ainda
tem vários por lá) e eu, nada!
Como não vou lá desde 2005, o que
vou sabendo é através do que ele e a minha cunhada me contam e das fotos que
vão tirando de cada vez que lá vão.
Para que não se esfume tudo da
minha cabeça, e com o apoio dessas fotos, vou tentar passar para aqui algumas
dessas lembranças.
Nasci “nas barbas” da antiga
judiaria da cidade e vivi por lá, quase sempre, até aos 19 anos. Mas o meu
conhecimento de que aquela zona foi a antiga judiaria é muito recente, naquela
época nunca ouvi nada sobre isso, nem na Escola nem em lado algum, e durante vários
anos depois, também não.
De há uns tempos para cá, os
poderes locais têm dado muita relevância ao facto, a zona tem sido
intervencionada e até ocorrem, anualmente, visitas guiadas, encenadas, para os
turistas.
Voltando ao local de nascimento,
ele ocorreu na Rua de S. Vicente, por detrás da Igreja do mesmo nome, numa casa
que sempre ouvi dizer ser a “Casa do Pitaita”…?! Segundo a minha tia Fernanda,
o Pitaita era um taberneiro que alugava a parte de cima da taberna, e este nome
não passaria de uma alcunha. Quando era pequena, a minha mãe, de cada vez que
passávamos por ali, dizia-me que a “casa do Pitaita era aquela…” mas agora já
não sei bem qual das casas era essa, mas seguramente é uma dessas que se vêem
nas fotos, do lado esquerdo.
Rua de S. Vicente)
Quando o meu irmão nasceu dois
anos depois, já vivíamos noutra zona da cidade, não incluída na judiaria. Mas
ainda hoje sei bem qual era a casa, na Rua Infante D. Henrique, perto da Praça
(era assim que chamávamos ao Mercado), porque tenho umas remotas lembranças de
um alpendre e de um quintal, e de uma senhora que vivia na casa contígua, a D.
Urbana, de que ouvi a minha mãe falar muitas vezes. A dita casa, neste momento, já ruiu, era a que se encostava à que se vê, também em ruína.
Rua Infante D. Henrique
A derrocada do que foi o alpendre e do muro que resguardava um quintal agradável, são evidentes.
Entretanto a Praça desapareceu, mudou-se para
novas instalações e deu lugar às novas instalações da Câmara Municipal, que ficam do outro lado da rua da casa em ruínas.
Câmara Municipal
Dali, os meus pais mudaram-se
para uma rua estreita, a Travessa da Estrela (que se chama agora Rua Dr. António Júlio, em
homenagem ao nosso médico) perpendicular à Rua do Comércio (do lado direito
para quem vem da Misericórdia para a Sé) que vinha dar à Rua Rui de Pina.
As lembranças que tenho dessa
casa também são vagas, dois ou três degraus na entrada, para lá da porta mais
escadas, uma sala não muito clara, onde a minha mãe se passeava, noites a fio,
com o meu irmão ao colo, porque não parava de chorar. O meu pai tentava dormir
no quarto, porque ao outro dia tinha de ir trabalhar. Lembro-me mais do
desespero da minha mãe, por não saber já o que fazer para o acalmar, do que
propriamente da casa.
Não tenho fotos desta rua nem
desta casa, ou antes, talvez tenha, em papel, não sei é onde. Se houver
hipótese de obter outras, alguma aqui virá parar. Mas tenho uma foto de quando teria perto de três anos, ei-la:
Não reconheço as pessoas à direita, apenas a da esquerda, a Lurditas, e a criança mais pequena, não sei se seria o meu irmão ou o filho dessa senhora.
Das, penúltima e última casas
onde vivemos, é que tenho muitas lembranças e algumas bem marcantes. Falarei disso tudo no capítulo seguinte.
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