Antes que tudo se esfume - Meados do século XX
À falta de melhor, fica este título.
Afinal, é a época de que, como muita outra gente, posso dizer os seguintes lugares-comuns:
- em que fiz a minha entrada no Mundo;
- em que comecei a contar para as estatísticas;
- em que comecei a ser gente...etc., etc., etc.
se me lembrar de mais algum, venho acrescentar...
Foi, com certeza, uma das melhores épocas da minha vida; eu ia escrever, a melhor, mas acho que não devo porque, apesar do meu pessimismo, da minha forma sempre receosa de encarar qualquer situação e esperar sempre o pior, tenho de reconhecer que fui tendo outras boas épocas, sim.
Mas voltando ao início, direi que foram mais uma vez as fotos antigas, aquelas pequenas, a preto e branco ou a sépia, algumas já meio desbotadas, outras desfocadas, que me fizeram vir aqui escrever mais umas coisitas.
Começo pelo começo: uma das raras fotos do casamento de meus pais, na Primavera de 1948:
Como é de calcular, além dos meus pais, não consigo identificar quase mais ninguém, apenas os meus avós paternos e uma ou outra cara que me parecem de algumas amigas da minha mãe que ainda conheci e com quem convivi. A Igreja, é a Sé Catedral da cidade beirã onde nasci. Pelo que sempre ouvi contar, os convidados do casamento eram muitos, pelo que, na foto, apenas estarão uma pequena parte deles, até porque não identifico nela as minhas tias, tios e primos, que sei que estiveram presentes. Este casamento deu "boleia" ao baptizado de um menino filho de uns parentes do meu pai que, convidando os noivos para padrinhos, aproveitaram a boda para evitar despesas próprias, o que aborreceu um bocado a família por parte da minha mãe, mas que não teve como evitar. Suponho que a criança que aparece de branco, nos braços de uma senhora de idade, seja a que foi baptizada.
A foto seguinte, é de 1950:
Não consigo identificar o local, que nem me parece ter sido a melhor escolha, mas gosto muito de me ver ao colo da minha querida mãe, com certeza desfrutando, nós as duas, de um momento de felicidade, igualmente partilhado pelo meu pai, autor desta foto e de muitas outras que ele nos tirou, não só porque eu sei que nos amava, mas porque era das raras pessoas que, na época e na cidade, possuía uma máquina fotográfica.
Esta também é de 1950 e talvez já eu tivesse completado um ano:
O quintal é o de uma das minhas tias, irmã da minha mãe, na aldeia onde ela nasceu. Quintal este que se manteve assim praticamente até que essa minha tia e tio morreram, ainda não há muitos anos.
Nas cadeirinhas estamos, eu, de chapelinho na cabeça, e uma das minhas primas que nascera uns mesitos antes de mim. Os outros são os primos mais velhos, irmãos dela.
As toscas construções graníticas que se vêm, tipícas daquelas aldeias beirãs, eram as chamadas lojas dos animais. Não parece, mas estão duas portas, uma à direita, outra por detrás da minha prima mais velha. Essa, lembro-me muito bem de ser a da loja onde se recolhia a burra, a outra era da loja que pertencia a outra família que partilhava o mesmo quintal e com certeza servia o mesmo fim. Atrás do muro, entre as duas portas, vislumbra-se ainda o campanário da Igreja Matriz.
Penso que esta que se segue, seja de 1953:
Não sei também localizar esta foto. Andei muito tempo convencida que seria lá, na aldeia da minha mãe, embora não reconhecesse o sítio, mas depois, tendo em conta as pessoas retratadas e também uma conversa que tive há uns tempos com a minha tia Fernanda, estou mais inclinada que tenha sido tirada numa das entradas da minha cidade, nos arrabaldes, como se dizia. É que, todas as pessoas em causa viviam na cidade e não seria muito provável que precisamente aquele conjunto se tivesse deslocado à aldeia.
Gosto muito desta foto porque estão nela pessoas que me foram muito queridas, como o meu pai, os meus avós paternos, a minha avó materna, a minha tia, irmã de meu pai e a minha prima mais velha; outras que continuam a ser, como é o caso da minha mãe e tia, irmã dela; e amigas de que, dados os rumos que levaram as nossas vidas, nos separámos, mas de quem nunca perdemos totalmente o contacto. Figura também uma prima afastada de que mal me lembro e uma moça que, segundo julgo, terá sido a empregada lá de casa, a criada, como se dizia. Eu e o meu irmão, somos as únicas crianças presentes, porque também éramos as únicas neste núcleo familiar mais restrito.