Outros Carnavais...Esta foto foi tirada no último Carnaval que passei na minha cidade natal e, sendo assim, data de Fevereiro de 1969.
Nunca tinha ido a um baile de Carnaval porque, enquanto fui estudante, esta quadra era, invariavelmente, passada em casa. Neste ano, porém, eu já entrara no mundo do trabalho, fizera novos conhecimentos e, enfim, já me sentia adulta nos meus 19 anos. Foi uma amiga recente, que era irmã de uma moça que veio a ser minha tia, quem me incentivou a ir a este baile.
O dito baile foi no Grémio, onde só me lembro de ter ido quando era muito criança, pela mão do meu pai, que era sócio. Depois nunca mais lá voltara. Esta ida ao baile de Carnaval do Grémio, o mais badalado da cidade, não deixou por isso de ser um acontecimento.
Conforme se pode facilmente verificar pela atitude de quem está retratado (eu incluída, claro), era daqueles bailes à antiga, em que as raparigas se sentam em volta da sala, à espera de quem as venha convidar para dançar. As mães, irmãs mais velhas ou outros adultos confiáveis, cumpriam o seu papel de discreta vigilância. Os rapazes e homens, amontoavam-se um bocado noutro canto da sala e iam dando umas miradas para ver quem iriam convidar a seguir; alguns dispunham-se estrategicamente em lugar mais avançado, não fosse outro qualquer buscar a escolhida. As raparigas observavam todas estas manobras aos risinhos e segredinhos umas com as outras. Quando não agradava a alguma aquele que já se dirigia na sua direcção, levantava-se repentinamente em direcção aos lavabos ou então fingia-se desentendida olhando por cima do ombro do candidato a rejeitado dando-lhe a entender que, atrás, havia outro com quem já se tinha comprometido. Outra situação, era aquela em que o par tendo-se entendido bem nos passos de dança e, claro está, fazendo gosto na companhia mútua, dava-se a conhecer a outros candidatos que já se tinha compromisso até final do baile.
Foi mais ou menos isto o que me sucedeu neste baile. Para minha grande surpresa, um colega de trabalho, com quem nunca trocara sequer duas palavras no serviço (além do bom dia, boa tarde), de quem desconhecia tudo, incluindo o nome, veio convidar-me para dançar. Penso que nem tive tempo de raciocionar, quanto mais balbuciar alguma coisa e, de repente, vi-me nos braços desse colega que, com toda a gentileza, me conduzia pelo salão. Acho que tropecei muito, desacertei outro tanto, mas a certa altura o rapaz, vendo a minha atrapalhação, achou por bem encetar uma conversa qualquer que me fez sentir mais à vontade e deu para terminar aquela modinha, já mais segura dos passos que dava. Mas, senti-me profundamente aliviada quando retornei ao meu lugar e as minhas faces começaram a arrefecer. Porém, durou pouco o meu descanso porque o rapaz ali estava de novo a solicitar-me, mal a música seguinte começou. A partir dali e, até às quatro ou cinco da manhã, não dancei com mais ninguém e por várias vezes, entre uma música e outra, nem sequer me fui sentar no meu lugar porque, não só a dança como a conversa, nos envolveram de forma total.
Pior mesmo foi voltar ao trabalho e deparar-me com aquela pessoa.
Que o dito colega me tinha impressionado, disso não tinha dúvidas, mas enfrentá-lo a partir dali é que me fazia tremer as pernas. Como eu temia, o rapaz mostrava-se agora cheio de atenções para comigo o que logo fez arquear as sobrancelhas das minhas colegas. Elas não tinham estado no baile mas logo houve quem as informasse do que se passara no Grémio. Não tardou muito que uma delas me avisasse que o rapaz era comprometido, de casamento marcado até, e que era melhor eu esclarecer tudo para não criar ilusões. Descansei-a dizendo-lhe que por mim tudo se resumira a um baile que tanto para mim como para ele, correra bem. Não ia alimentar coisa alguma porque não era essa a minha vontade e, certamente, também não seria a dele. No que me toca, era verdade, mas não sei o que lhe passou a ele pela cabeça porque durante os meses seguintes não deixou de me cortejar. Quando chegou a Páscoa e por mero acaso, veio a ser meu compadre (no jogo dos bilhetinhos ) e logo se apressou a presentear-me com as amêndoas. Quando chegaram as festas dos santos populares e dos bailaricos de rua, ainda me arrastou para um deles. A forma que encontrei ser a melhor para lhe dar a entender que não estava interessada fosse no que fosse, foi tornar-me "tão pesada" na dança que ele acabou por me dizer que lhe parecia que eu estava a fazer de propósito ou já não era a mesma pessoa. - De facto, uma dessas coisas era verdade, ou se calhar até as duas - respondi-lhe.
Que o dito colega me tinha impressionado, disso não tinha dúvidas, mas enfrentá-lo a partir dali é que me fazia tremer as pernas. Como eu temia, o rapaz mostrava-se agora cheio de atenções para comigo o que logo fez arquear as sobrancelhas das minhas colegas. Elas não tinham estado no baile mas logo houve quem as informasse do que se passara no Grémio. Não tardou muito que uma delas me avisasse que o rapaz era comprometido, de casamento marcado até, e que era melhor eu esclarecer tudo para não criar ilusões. Descansei-a dizendo-lhe que por mim tudo se resumira a um baile que tanto para mim como para ele, correra bem. Não ia alimentar coisa alguma porque não era essa a minha vontade e, certamente, também não seria a dele. No que me toca, era verdade, mas não sei o que lhe passou a ele pela cabeça porque durante os meses seguintes não deixou de me cortejar. Quando chegou a Páscoa e por mero acaso, veio a ser meu compadre (no jogo dos bilhetinhos ) e logo se apressou a presentear-me com as amêndoas. Quando chegaram as festas dos santos populares e dos bailaricos de rua, ainda me arrastou para um deles. A forma que encontrei ser a melhor para lhe dar a entender que não estava interessada fosse no que fosse, foi tornar-me "tão pesada" na dança que ele acabou por me dizer que lhe parecia que eu estava a fazer de propósito ou já não era a mesma pessoa. - De facto, uma dessas coisas era verdade, ou se calhar até as duas - respondi-lhe.
Entretanto, chegou o bendito mês de Julho e eu deixei aquele trabalho quase de repente e rumei a Lisboa.
Só para terminar, acrescento duas coisas:
1.ª - Não faço ideia do rumo que levaram as vidas das pessoas que estão comigo na foto, só me lembro do nome de duas, sendo que, uma delas, vivia na minha casa e chegou a ser uma grande amiga. Mas o tempo passa e tudo muda.
2.ª - A história deste baile de carnaval, ainda hoje me faz sorrir, mas as histórias dos outros carnavais que passei em casa, em que também houve bailaricos na cozinha, já não têm em mim esse efeito. Pelo contrário, trazem-me lembranças que ainda agora me magoam.