sábado, 22 de maio de 2010

Finalistas 65/66

Finalistas de 65/66


Ano Lectivo de 1965/1966

O meu Livro de Finalistas da Escola Industrial e Comercial da Guarda




Foto: dos alunos finalistas do Curso Geral do Comércio (que era o meu)



Outros cursos de que igualmente se encontram retratados, no Livro, os finalistas: De Aperfeiçoamento do Comércio, Industrial, e de Formação Feminina.

Tenho ainda bem presente esse ano lectivo e a razão deve-se ao facto de o mesmo me ter corrido de feição, tanto do ponto de vista escolar como pessoal. Senti-me, nesse ano, muito mais confiante nas minhas capacidades, nas minhas decisões, nos meus relacionamentos com os colegas e professores. Recordo-me que os dias dos exames foram uma perfeita loucura, principalmente no que tocou às provas orais. Fazia-se uma, sempre debaixo de enorme nervosismo perante um júri austero e uma larga assistência dos outros alunos e, mal terminava, já estavamos a ser chamados para outra, na sala ao lado. Como já disse, tudo me correu bem, fiquei até dispensada de algumas orais devido a boas notas obtidas nas provas escritas. Mas (há sempre um mas...), ainda apanhei um susto com a oral de uma das disciplinas, aquela que nunca seria suposto assustar alguém: Economia Doméstica! Tentarei resumir a história: não havia dispensas de prova oral nesta disciplina, fosse qual fosse a nota obtida na prova escrita. Então, no dia da prova oral, encontrava-me na sala a assistir às provas das colegas e a aguardar a minha vez. A certa altura, tendo-me assegurado de que, antes de mim, ainda seriam chamadas umas três, saí rapidamente para ir à casa de banho. Entrei ainda não tinham sequer decorrido cinco minutos mas já a ouvir o final do meu nome. Aturdida, fui directamente para a secretária de examinanda e, para meu desgosto e atrapalhação, o exame começou com uma reprimenda da professora por me ter ausentado. Nem valia a pena justificar-me, ela não aceitaria qualquer justificação. A partir daí, tudo o que ela me perguntou sobre a matéria (que incidiu exclusivamente em culinária), varrera-se completamente da minha cabeça. Quis por força que eu explicasse como se faziam os "peixinhos da horta" e a mim pareceu-me que era a primeira vez que ouvia falar em tal coisa, embora, em casa, fosse um prato que se cozinhava com alguma frequência. Valeu-me então uma outra professora do júri (que infelizmente nos deixou cedo, mas essa é outra história que talvez um dia conte) que, vendo-me tão aflita e quase à beira das lágrimas, pediu à colega que mudasse de tema e me questionasse sobre outro assunto. Assim foi, consegui acalmar-me um pouco e lá respondi mais ou menos, mas valeu-me uma nota de 10, a única!
Com o Curso terminado, a passagem pela Escola Técnica já estava praticamente a fazer parte do meu passado. Ou assim eu o imaginava, mas estava enganada. De facto, grande parte dos meus colegas iria ainda frequentar, no ano lectivo seguinte, a Secção Preparatória Comercial, a fim de poderem prosseguir depois os seus estudos, no Instituto Comercial em Lisboa ou no Porto. Não era isso que eu queria para mim, ou seja, desejava sim um dia voltar aos estudos, quem sabe ingressar numa Universidade, mas nunca no Instituto Comercial, para o qual não me sentia minimamente vocacionada. Além do mais as disciplinas que me esperavam na Secção, apesar de serem só três, Português, Físico-Química e Matemática já eram, especialmente as duas últimas, pesadelo suficiente para me fazer querer ficar longe. O que eu queria mesmo, naquela altura, era conseguir um emprego, de preferência em Lisboa.
Os meus familiares, os meus colegas e amigos, não entendiam esta minha atitude e bastante argumentaram para me convencer a matricular-me na Secção Preparatória: - depois logo se veria - diziam - eu era nova, tinha muito tempo à minha frente, o emprego podia esperar mais um ano. Eu porém estava firme na minha decisão, pensava que nada me faria alterá-la mas, mais uma vez, estava enganada; bastou que uma certa pessoa, que nem era familiar, nem colega de escola, nem sequer amigo, me olhasse nos olhos e me dissesse mais ou menos isto e sem dar hipótese a qualquer argumentação: - claro que se vai matricular na Secção Preparatória, cá estamos para ajudar no que for preciso.
E foi assim que, no último dia do prazo e para grande surpresa e alegria das minhas colegas e amigas, me fui matricular na Secção Preparatória Comercial e voltei, com elas, à Escola Técnica. Foi um ano lectivo difícil, muitas vezes me lamentei por me ter deixado convencer, mas se não tenho concluído essa Secção, encontraria depois algumas portas fechadas para mim, e a minha vida profissional não teria tido o rumo que teve, que era, afinal, o que eu queria que tivesse.
Mas voltando ao livro, o seu conteúdo é composto de 3 grandes fotos de grupo, ou seja, dos estudantes de cada Curso, de algumas páginas dedicadas aos patrocinadores e as restantes são páginas de versos, uma por cada finalista. Esses versos, muito simples e a puxar à rima fácil ou forçada, resumiam o que, familiares, colegas e amigos, sentiam e desejavam para o futuro de cada jovem, findo aquele ciclo de vida académica.
No meu caso, foi a minha mãe e uma colega, a Conceição, que me preencheram a página com quadras desse mesmo teor.

Este livrinho andou desaparecido durante anos a fio. No entanto, mudara-se comigo de localidade para localidade, de casa para casa e, por fim, para aqui ficou arrumadinho, em sítio de que me esqueci. Quando, por mero acaso, dei com ele há uma meia dúzia de anos, quase tive um choque. Ali estava eu junto dos meus colegas, com a minha bata branca e com um meio sorriso para a foto. Aliás as expressões e postura de todos nós são muito idênticas: sorrisos q.b., as batas brancas que sei estarem impecáveis, braços ao longo do corpo, muito direitas e bem alinhadas na escadaria. Falo das raparigas, porque os rapazes estão lá para trás, como não podia deixar de ser, e todos engravatados porque assim é que era. Parecemos fazer parte de um coro!
Posiciono-me no grupinho da frente e, logo atrás de mim, está a minha prima Amélia e atrás dela a minha amiga Mª José, a única com quem até hoje ainda mantenho contacto, embora com algumas interrupções pelo meio, ao longo destes mais de quarenta anos.
Olho e volto a olhar e não consigo lembrar-me, em muitos casos, de quem é quem. Nas raparigas, ainda consigo identificar, entre as vinte e sete, talvez umas vinte, mas nos rapazes, nem um. Lembro-me dos nomes (eles estão no livro) mas não consigo fazer-lhes corresponder as caras. Isso incomoda-me, inquieta-me.
Estou tão senil assim?
Que será feito de cada um destes meus colegas? E das minhas mais que colegas, amigas? Que terão feito da vida?
Será que alguns se têm cruzado comigo por aí e não nos reconhecemos?
Bem, as interrogações não acabariam, mas ponto final.
Quem me responderia?!
Ah!
Se alguém que me conheça algum dia ler isto, sou capaz de apostar que terá ficado a pensar em quem terá sido a tal pessoa que me fez repensar uma decisão. Como escrevi, essa pessoa não era nada meu mas, paradoxalmente, tinha um ascendente bastante forte sobre mim. É mais uma das minhas histórias de vida, não sei se alguma vez a contarei...