Novembro de 1983
Afinal, "havia outras"!
Como estas, por exemplo.
Quando escrevi aqui a propósito de uma foto de 1976, estava convencida de que teria perdido o rasto a outras do período em que trabalhei na ex- Caixa do Comércio.
Foi o acaso que me trouxe estas às mãos. E não só estas, também umas de Novembro de 1982 mas que, por estarem em pior estado e reproduzirem o mesmo evento e mostrarem mais ou menos as mesmas pessoas, optei por não incluí-las também.
Penso que estão aqui muitas das que eram minhas colegas, no ano de 1983. Um ano em que eu praticamente já não pertencia à Instituição porque começara a leccionar no ano anterior, embora ainda provisoriamente. Para isso, recorri a licenças sem vencimento e, nos intervalos, (férias lectivas ou compasso de espera pela colocação após novo mini-concurso), eu regressava ao meu trabalho.
Nestas fotos, nós estamos, mais uma vez, a celebrar o São Martinho. Para mim, foi a última vez, dado que a minha colocação seguinte ocorreu uns dias depois e a partir de então entrei em licença ilimitada por mais de um ano até que pedi a exoneração.
Na foto da esquerda, estão duas colegas com quem ainda, até hoje, mantenho contacto ( a Aida e a Mariazinha) mas na foto da direita, em que me encontro, todos os contactos se romperam e, infelizmente, duas das colegas ( a Irene e a Ascensão) já nem se encontram entre nós.
Voltando ao São Martinho.
Não havia ano em que não festejássemos a preceito, ou seja, nessa tarde, o trabalho ficava para mais tarde, atendendo-se ao estritamente urgente - leia-se, suporte ao atendimento do público, que não podia parar. As chefias, em alguns sectores, fechavam os olhos a esta comemoração, mas noutros aderiam abertamente aos festejos, que se traduziam nos comes e bebes (às vezes mais nos bebes) e com as castanhas como rainhas da festa. De alto a baixo, no edifício, não havia sala em que não cheirasse fortemente à erva doce das castanhas cozidas ou ao inconfundível cheiro das castanhas assadas e ao chouriço e frango assados, que eram alguns dos petiscos mais apreciados e cozinhados ali mesmo, nos vários recantos que existiam, onde se montavam os assadores, grelhadores ou pequenos fogões e dispunham os tachos e panelas, tudo materiais que se traziam de casa, bem como as frutas, ou os doces, os bolos e outros mimos que se faziam para a ocasião e era suposto obterem a apreciação e aprovação dos colegas. Assim, as fotos mostram duas das salas em que estava instalada a secção a que eu pertencia, transformadas em "cantina", com toda a gente em convívio bem disposto. Lembro-me bem como alguns colegas (eles e elas) ficavam até alegres para além da conta e se viam depois aflitos para se recompor e chegar a casa em condições. Não me refiro só aos colegas da secção mas a todos os outros que trabalhavam na Instituição e tinham estado envolvidos em idêntico festim.
É verdade que celebrei muitos outros dias de São Martinho nos vários locais onde trabalhei depois, desde as Escolas a outros organismos do Ministério da Educação. Os petiscos eram praticamente os mesmos, embora fossem mudando os rituais, ou seja, tudo passou a comprar-se já pronto, quando muito, cada um encarregava-se de levar um doce ou bolo, mas até isso passou a ser comprado na hora e não feito em casa, com brio, para ser exibido e apreciado.
Não sei se por tudo ter mudado, se por uma questão nostálgica de tempos idos, de juventude que já se foi, o facto é que é unicamente desses São Martinhos antigos que retenho memórias, tanto das pessoas como do espaço onde tudo se passava e que ainda consigo visualizar.